A foto exibe o sorriso de Luiz, que não quer aparecer, mas faz questão de exibir os dentes novinhos. Por trás deles tem uma história de amizade e gentileza, de quem não tinha dinheiro para pagar o guardador de carros, mas ofereceu seus serviços em troca. A dentista Renata Aires Viana, de 30 anos, quem conta o relato com carinho. De poder fazer sorrir quem antes não tinha dentes.
Frequentadora assídua das novenas da Igreja Perpétuo Socorro, numa das quartas-feiras, ela chegou e não tinha 1 real no bolso. Só o cartão. “Ele veio e falou: põe o carro aqui. Eu respondi que estava sem dinheiro e ele me disse ‘se você me der um muito obrigada de coração, eu já estou feliz'”, lembra a dentista.
As palavras não saíram da cabeça dela durante toda a novena. Além de achar bonito o gesto, ela percebeu que o guardador tinha apenas dois dentes na parte de cima. Na volta, resolveu deixar um cartão com ele, caso interessasse e ele quisesse fazer o tratamento.
“Ele pegou todo faceiro. De início eu achei que ele não ia me procurar, mas ele procurou, fez e virou até meu amigo”, conta ela. Foram quatro meses até a prótese ficar completa. O tempo levou em conta as faltas do guardador. Ele sumia por vezes, mas voltava e pedia desculpas.
O serviço sairia, a dentista calcula, em torno de R$ 1,5 mil. “Fiz uma prótese removível. Tivemos de fazer a extração dos dentes, ele só tinha as raízes”, detalha. Assim que a parte de cima ficou pronta, ele ficou todo faceiro. “Ele me agradeceu dizendo que era o presente de Natal dele”, diz Renata.
Luiz aceita participar da entrevista desde que não tenha o nome completo divulgado e nem foto. Ele nega ser usuário de drogas e diz que não mora nas ruas, e sim numa casa no bairro Santa Emília. Guarda carros há 10 anos e nunca ganhou nada assim. “Ela foi a primeira, já me ofereceram várias coisas, fiquei muito feliz, ela sabe o quanto”, diz.
Toda quarta-feira ele diz que a primeira coisa que faz é participar da novena das 6h da manhã e depois acompanhar o entra e sai da igreja. O interessante, descreve Luiz, é que apesar das pessoas saírem da igreja, porta afora parecem ter esquecido o que ouviram lá dentro.
“Tem gente que pega sai e não fala nenhum obrigada para a gente. Isso porque sai da igreja. Eu fui sincero, disse que preferia um obrigado do que dinheiro”, conta Luiz, de 39 anos, sobre o episódio em que conheceu Renata.
O tratamento ainda será finalizado na parte debaixo, mas o que já está pronto é o suficiente para Luiz. “Fiquei bonito e muito feliz pelo que ela fez. Eu simplesmente falei, não esperava nada”.
A dentista segue na mesma onda de gratidão. “É muito bom, não tem algo que pague quando a pessoa fala um obrigada tão gostoso”.
Renata agora tem vaga “cativa” para as novenas de quarta-feira. Além de uma felicidade de ter dado o melhor presente de Natal a alguém, o sorriso de volta.
via CampoGrandeNews